Marília Campos (PT) captura, imobiliza e sufoca mais uma presa: a candidatura a prefeito do PSD Contagem

Minas Gerais 19.07.20 00:45

No início de 2020, o repórter Rafael Martins (PSD), ex-vereador da cidade de Belo Horizonte e hoje deputado estadual, resolveu se aventurar, de forma mais incisiva, na política de Contagem. Já bastante desgastado por sua eleição para deputado, em que figurou, na lista dos eleitos, entre os oito menos votados, e marcado por ter abandonado o mandato de vereador no meio do caminho, o repórter decidiu dobrar a aposta e lançar-se pré-candidato a prefeito de Contagem. A jogada, ao que tudo indica, não está tendo muita chance de êxito, mais por sua inabilidade pessoal que pelo desejo de renovação política dos contagenses.

Para entender o desenrolar dos fatos, é preciso voltar um pouco no tempo. Em 2018 Rafael, então vereador na cidade de Belo Horizonte e pré-candidato a deputado estadual, aproximou-se de algumas lideranças de Contagem, com o objetivo de formar uma base de apoio e conquistar votos para chegar à Assembleia Legislativa. O processo foi liderado por um grupo ligado ao diretório municipal do Partido Social Democrático (PSD) local, formado por pessoas cuja credibilidade já estava bastante desgastada. O tal grupo do PSD tentou cooptar alguns movimentos da cidade, como forma de mascarar sua baixa credibilidade. No entanto, esses movimentos logo perceberam a natureza do que era tratado e se afastaram do grupo, recusando-se a apoiar as iniciativas. O resultado foi visível nas eleições: a votação do repórter Rafael foi absurdamente inferior à de Mauro Tramonte (Republicanos), apesar de ambos serem figuras televisivas; Rafael, inclusive, trabalhava para uma emissora mais promissora. O fato é que referido grupo do PSD mais atrapalhou do que ajudou o candidato.

Já deputado estadual e tendo abandonado seu partido de eleição, o PRTB, o repórter Rafael Martins, como é conhecido politicamente, ou “Rafa”, como é chamado carinhosamente por seu chefe de gabinete, foi inserido em um projeto mais ambicioso: transformar o prefeito Alexandre Kalil (PSD) no governador de Minas Gerais. Essa proposta contra o governador Zema (partido Novo) – e sua incorrigível incapacidade política – teria sido concebida com o aval de atores influentes, como o senador Carlos Viana (PSD), responsável por trazer o ex-tucano, senador Antônio Anastasia, para a composição; o prefeito de Betim, Vittorio Medioli (PSD); e o deputado Rafael Martins (PSD), apadrinhado de Viana para ser o futuro prefeito de Contagem, pouco importando os interesses da cidade ou que Martins fosse ex-vereador e morador de Belo Horizonte.

O plano para a tomada do Palácio Tiradentes parecia perfeito: Kalil desgastaria Zema (o embate da pandemia veio a calhar nesse contexto) e se fortaleceria como candidato ao governo de Minas em 2022, em uma campanha sustentada pelas três mais importantes cidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte: BH (chefiada pelo próprio Kalil), Betim (pelo prefeito Medioli) e Contagem (do candidato – que seria o “futuro prefeito” – Rafael Martins). Para melhorar, Anastasia fortaleceria a composição e beneficiaria a si mesmo pelo descolamento de sua imagem do padrinho Aécio Neves (PSDB).

No entanto, não contariam com a astúcia de Marília Campos (PT), mais articulada e habilidosa que Martins e toda a sua equipe. O PT não estaria disposto a perder uma importante prefeitura como Contagem e Marília, gostassem ou não, seria, de fato, a predileta nas pesquisas.

Marília Campos (PT) iniciou, então, uma série de negociações em Brasília nos mesmos termos daquelas que tiraram Márcio Lacerda da disputa ao governo de Minas em 2018, quando o PSB rifou a candidatura de Lacerda em apoio a Fernando Pimentel (PT), tendo como troca a neutralidade do PSB na disputa pela Presidência da República. À época, Fernando Haddad foi o candidato do PT à Presidência.

Nas negociações, Marília (PT) vendeu a imagem de que seria a candidata invicta e que Rafael Martins – que sequer pontuava nas pesquisas – não teria qualquer chance. Ela se dispôs a assumir a posição de Martins (que pretendia ser prefeito de Contagem) na aliança para tirar Zema (partido Novo) do governo de Minas.

O bote

Marília (PT) e a cúpula do PSD Nacional esperaram a hora certa para o bote. Sequencialmente às viagens de Marília Campos (PT) à capital federal, e logo após 04 de abril de 2020 (último dia para que os interessados em candidaturas se filiassem às legendas em que teriam que disputar), os tradicionais integrantes do diretório municipal do PSD Contagem foram colocados de lado na composição do órgão provisório: Raimundo Luiz Fernandes, conhecido como “Raimundo Transrefer”, que já havia sido rebaixado à vice-presidência da legenda, foi agora colocado na segunda tesouraria; Everaldo José de Oliveira foi tratado como mero vogal; e o próprio Rafael Martins passou de presidente para vice-presidente do diretório municipal, o que, no meio político, foi uma clara sinalização de perda de poder e importância no contexto das articulações. Ainda mais grave: os interessados não foram previamente comunicados das trocas a que tiveram conhecimento somente pelas postagens jocosas que circularam nos grupos políticos de WhatsApp de Contagem.

Composição do órgão provisório do PSD de Contagem – Imagem obtida no sítio eletrônico do TSE em 18/07/2020 pela equipe de Redação do Jornal Viva Voz
Composição do órgão provisório do PSD de Contagem – Imagem obtida no sítio eletrônico do TSE em 18/07/2020 pela equipe de Redação do Jornal Viva Voz

Martins (PSD) ensaiou um respiro e chegou a postar uma foto no seu Instagram pessoal em que ele estaria tomando um café da manhã na casa de Viana (PSD) com a legenda “nada mudou”. A foto foi apagada em seguida e também a chama da esperança: ao que tudo indica, o PT não lançará candidatos a prefeito nas cidades de Belo Horizonte e Betim e o PSD apoiará Marília no pleito em Contagem. Melhor um pássaro na mão tendo Marília como aliada, do que um Rafael Martins voando.

Segundo fontes do PSD Contagem disseram ao Jornal Viva Voz, o senador Carlos Viana não teria conhecimento da formatação do acordo com o PT, o que parece improvável no contexto dos interesses políticos envolvendo um senador da República, quanto mais Viana, sabidamente uma figura vaidosa. Além disso, parece improvável que as mudanças na composição do diretório tivessem ocorrido sem o conhecimento de Viana, já que a senha do Sistema de Gerenciamento de Informações Partidárias (SGIP) – que faz as trocas dos nomes dos responsáveis pelos diretórios municipais – fica sob a posse dos dirigentes estaduais.

No entanto, a fonte ouvida pelo Viva Voz insistiu em argumentar que Viana (PSD), “apesar de muito vaidoso e de se achar um ‘semideus’, é inábil e inexperiente, sendo facilmente atropelado pelo prefeito de Belo Horizonte”, Alexandre Kalil (PSD), que é quem realmente dá as cartas na legenda em âmbito estadual, apesar de Viana ser formalmente o presidente do diretório mineiro do PSD.

Imobilização

Marília Campos (PT) foi sagaz e implantou – com ou sem o consentimento de Viana e Rafael Martins – seu ex-vice, Agostinho Silveira, no PSD. Nos bastidores, comenta-se que Silveira será o vice de Marília numa aliança que incluirá o PSD na disputa à prefeitura de Contagem, sem prejuízo de que o PSD possa indicar um nome diferente. Outro indício da articulação seria a nomeação do novo presidente do diretório municipal do PSD, o suplente de senador, Alexandre Silveira de Oliveira, que garantiria a costura.

Asfixia

Comenta-se, ainda, que numa tentativa de não melindrar com o deputado repórter Rafael Martins, apadrinhado do senador Viana, o PSD teria dado um ultimado ao pré-candidato: caso ele não aparecesse, de forma significativa, na próxima pesquisa contratada, estaria de fora da disputa. Esta seria uma forma educada de convencer o próprio deputado-repórter de sua incapacidade para participar do processo eleitoral em Contagem, deixando livre o caminho para a aliança entre Marília Campos (PT) e o PSD Nacional, que é o que realmente importa para a legenda.

Engolindo

A fonte foi questionada sobre o destino dos pré-candidatos a vereador, caso a candidatura do repórter Rafael Martins não vingasse – que é o que tudo indica que irá acontecer. “Uma boa forma de segurar os pré-candidatos no projeto é garantindo que parte do fundo eleitoral de R$ 3 milhões será utilizado para custear as campanhas dos vereadores e que não faltará recursos para os pré-candidatos a vereador do PSD de Contagem”, disse.

Digestão por quatro anos

O Partido dos Trabalhadores (PT) passa por uma grave crise e a conquista da prefeitura de Contagem é fundamental para sua superação. Contagem seria a melhor oportunidade para que o partido realocasse suas lideranças dos postos perdidos no governo federal e no governo de Minas. Marília Campos é a esperança do PT.

Por Redação Jornal Viva Voz

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