Prefeito de Contagem manobra e emplaca aliado na presidência da CPI do Bolsa Moradia
Os trabalhos serão conduzidos pelo vereador Zé Antônio, do PT, apoiador do prefeito Alex de Freitas.
A articulação do prefeito de Contagem, Alex de Freitas (sem partido), garantiu a presidência da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que vai apurar os desvios do programa Bolsa Moradia, na Câmara Municipal, a um dos seus aliados: o vereador Zé Antônio, do PT. A comissão é composta por cinco membros. Disputaram o comando dos trabalhos Zé Antônio (PT) e o vereador Daniel do Irineu (Progressistas).
O petista teve o voto do vereador Alessandro Henrique (PTC) e Alex Chiodi (Solidariedade) votou no progressista. O desempate que garantiu o petista à frente da CPI coube à vereadora Silvinha Dudu, do PV, o mesmo partido do vice-prefeito de Contagem, William Barreiro.
A escolha, porém, deixou o “rastro” do governo. Nos bastidores, durante a semana, Daniel do Irineu pediu o apoio de Zé Antônio para presidir os trabalhos. O petista garantiu seu voto a Daniel. Alegou que seria um trabalho muito intenso e que queria se dedicar a sua campanha à reeleição. Nos últimos dias, porém, o petista “mudou de ideia”.
Hoje pela manhã, na primeira reunião da Comissão, que definiria a mesa de trabalho, Zé Antônio lançou sua candidatura à presidência “a pedido do seu partido”.
Nas tentativas de composição, Daniel do Irineu também manifestou sua disposição de comandar a relatoria da CPI. Zé Antônio rebateu, dizendo que o PT não aceitaria. Após muita discussão, Silvinha Dudu foi escolhida relatora da CPI.
Do mesmo partido da pré-candidata Marília Campos (PT), Zé Antônio é um apoiador declarado do prefeito Alex de Freitas. Em agosto de 2019, o petista foi um dos vereadores que pegou o microfone e se manifestou contra a abertura do processo de impeachment do prefeito Alex de Freitas, por causa das denúncias de corrupção, na sessão que teve como tema a prestação de serviços funerários municipais.
Num discurso confuso, o petista defendeu o atual prefeito, dizendo que ele tinha feito uma “licitação séria”, e que por isso queriam caçar seu mandato.
Na ocasião, havia suspeita de favorecimento a uma única empresa que se sustentava em três renovações de uma dispensa de licitação, em caráter emergencial. O esquema garantiu à funerária o monopólio da atuação no município.
À época, Alex de Freitas foi acusado de receber até R$ 60 mil em propina da empresa que prestava o serviço no município. A acusação consta de um Termo de Colaboração Premiada à Polícia Civil que acabou sendo abortada. Atualmente, a denúncia está em tramitação no Tribunal de Justiça, mas a defesa pediu que o processo corresse em segredo.
Em outra sessão, em um momento de “sincericídio”, Zé Antônio em apoio à polêmica retomada da cobrança do IPTU residencial em Contagem, manifestou: “seja pobre ou seja rico, seja humilde ou não; seja a pessoa lá da favela, eu acho que ela tem que pagar”. Em outra oportunidade, o petista também declarou: “se a Marília não fosse candidata, eu faria campanha para o Alex”.
A CPI vai apurar os desvios reconhecidos pelo próprio prefeito de Contagem, durante uma entrevista. Foram roubados mais de R$ 4 milhões. As primeiras informações dão conta de que o desvio pode ser ainda maior, e que podem ter ocorrido em outros programas sob gestão da secretaria-adjunta de Habitação, comandada pelo advogado Rafael Braga de Moura.
Os desvios teriam sido feitos pelo antigo diretor do programa Bolsa Moradia, de 2018 a 2020. Ainda segundo informações preliminares, parte considerável da movimentação financeira teria sido feita pela conta bancária de um garoto de 14 anos, filho do ex-diretor do programa. Estima-se que cerca de 300 pagamentos irregulares eram feitos mensalmente, tendo beneficiado também duas empresas.
Apoio de Alex de Freitas a Marília Campos?
Há tempos em Contagem existe o burburinho de uma aproximação entre o atual prefeito e a pré-candidata Marília Campos (PT), de quem Alex já fora inclusive coordenador de campanha e integrou o governo da petista como secretário-adjunto de Governo.
A primeira suspeita reside principalmente nesse antigo vínculo. Atualmente, o secretário de Governo de Alex de Freitas é mesmo do governo Marília, Paulo César Funghi.
Dezenas de outros cargos igualmente estratégicos para o governo também são integrados por correligionários da ex-prefeita, que conviveram com Alex durante o governo da petista.
Recentemente, Marília Campos foi entrevistada na Rádio Super, pelo apresentador Ricardo Sapia – amigo declarado do prefeito Alex de Freitas, já tendo, inclusive, composto a comunicação da prefeitura, no primeiro ano do governo.
Questionada sobre a atuação da atual gestão no combate à pandemia, Marília Campos atribuiu responsabilidades ao governo do estado e ao Governo Federal, mas sobre os trabalhos da prefeitura disse não saber avaliar.
Coletiva de imprensa
O Movimento Libertas Minas e outros grupos de oposição da cidade compareceram à coletiva de imprensa para tratar da CPI. Eles questionaram a ausência da relatora indicada pelo presidente da Comissão já na primeira reunião.
O questionamento e a resposta do presidente da CPI podem ser vistos em vídeo que circula nas redes sociais, a partir do minuto 11′.
Por Redação Jornal Viva Voz