Maria José Chiodi (SD) e a volta da política do pé de galinha em Contagem
O recorde de rejeição do prefeito Alex de Freias (sem partido) e a inviabilidade de sua reeleição fizeram surgir no executivo da cidade de Contagem um vácuo de poder. A conclusão que se extrai dos comentários de populares nas ruas é que qualquer mandatário seria melhor que o atual prefeito, mas a verdade é que o efetivo preenchimento dessa lacuna passa por uma vigorosa disputa de mando entre grupos que se complementam e se afastam conforme o jogo de interesses do momento.
Nesse cenário, a população de Contagem viu ressurgir velhos nomes que já se consideravam aposentados da política local, dentre eles, o da ex-vereadora Maria José Chiodi (Solidariedade), mãe do vereador Alex Chiodi (também do Solidariedade). Ela estava afastada das disputas eleitorais desde 2014, ano em que perdeu a eleição para o cargo de deputada estadual, quando disputou a vaga pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Agora em 2020, para que não precise disputar com seu filho uma vaga na Câmara de Vereadores, Maria José decidiu se lançar pré-candidata a prefeita de Contagem.
Atualmente, Maria José Chiodi ocupa o cargo comissionado de “secretária parlamentar” no gabinete do deputado federal Newton Cardoso Jr. (MDB), apesar de continuar morando em Contagem. Coincidentemente, o ex-prefeito, Altamir José Ferreira, de quem Alex de Freitas usurpou o título de pior prefeito da história de Contagem, também está lotado no mesmo gabinete. O fato é que, avaliando a atual conjuntura, Chiodi pediu autorização ao seu chefe, o mencionado deputado federal, para se desfiliar do MDB e lançar pré-candidatura à prefeitura de Contagem pelo Solidariedade.
Adversários no passado, colegas de trabalho no presente
Um episódio curioso é que esta é a segunda vez que Chiodi aspira sentar-se na cadeira de prefeito. No ano de 1992, a ex-vereadora, que hoje está abrigada no gabinete de Newton Cardoso Jr., candidatou-se a prefeita de Contagem em uma chapa do PMDB que teve o vereador Teteco (atual líder do governo Alex de Freitas) como vice. À época, Newton Cardoso (o pai) era governador do estado e tinha escolhido o engenheiro Roberto Freire (que havia sido seu secretário na gestão à frente da prefeitura de Contagem) para concorrer ao cargo de prefeito pelo PMDB.
Maria José Chiodi contrariou a vontade de Newton Cardoso e, construindo uma articulação com os demais vereadores do PMDB de Contagem, impôs sua candidatura à prefeitura, em parceria com o vereador Teteco. Como resposta, Newton Cardoso não deu qualquer apoio à candidatura de Chiodi pelo PMDB e, na disputa, Maria José perdeu as eleições para Altamir José Ferreira que era o candidato do PSDB, apoiado por Ademir Lucas. Mais de duas décadas depois, os destinos de Chiodi e Altamir voltaram a se cruzar, no gabinete do deputado que é filho de Newton Cardoso.
Chiodi: a vereadora do pé de galinha
Sobre sua atuação política, Maria José se autodenomina “guerreira”, mas nas ruas da cidade e nos bastidores é mais conhecida como “a vereadora do pé de galinha”, como referência ao histórico de práticas assistencialistas atribuídas à pré-candidata. Segundo contam, ela teria dito que “se tivesse um caminhão de pés de galinha ganharia todos os votos de Nova Contagem”, demonstrando sua visão clientelista da política.
Lenda urbana, ou não, o fato é que recaem sobre Maria José Chiodi as críticas por distribuir para famílias carentes lotes em áreas invadidas na beirada de rodovias, sem qualquer saneamento básico ou infraestrutura mínima, e a distribuição de alimentos, possivelmente até de pés de galinha, para famílias pobres, sendo esta a razão por ter ficado assim conhecida.
O retorno de Maria José para a cena eleitoral representa, dessa forma, a volta de um modo de fazer política baseado no fisiologismo e no clientelismo. No primeiro caso, as relações políticas são estabelecidas para manter e reforçar o poder político de seu grupo familiar, fazendo-o perdurar desde a década de 70 até os dias de hoje, tendo transmitido seu capital político de mãe para filho. No segundo lugar, a tentativa de manter vivas as repugnantes práticas de trocas de favores para garantir votos, travestidas de assistência social, por meio da prestação de serviços não essenciais à população, realizados por organizações que se mantêm com verbas públicas, as famigeradas “ONGs” dos vereadores de Contagem.
Chiodi defendeu o retorno da isenção do IPTU residencial
Embora seja possível tecer muitas críticas à atuação da ex-vereadora que priorizou a captura das populações carentes, trocando votos por pequenos favores, em recente apresentação com outros dois pré-candidatos que, até pouco tempo, pertenciam ao primeiro escalão do governo Alex de Freitas, Maria José Chiodi foi a que demonstrou melhor articulação e preparo, com fala firme e consistente em defesa da isenção do IPTU residencial.
Ela foi enfática em defender a isenção do IPTU, enquanto seus dois interlocutores claudicavam sem conhecimento sobre o tema, optando pelo discurso governista de “fazer uma revisão de valores”. Quanto aos demais temas, Chiodi e os dois pré-candidatos mantiveram uma conversa rasa e sem propostas concretas para a solução dos principais problemas da cidade.
Aprimoramento político
Se Chiodi se firmar como candidata a prefeita, ou como vice, a fim de preencher o vazio deixado pela mal avaliada gestão do prefeito Alex de Freitas, especula-se que substitua os pés de galinha que costumava distribuir para as famílias em Nova Contagem por pescoço de peru, melhorando um pouco a qualidade dos bens doados na prática do assistencialismo. Seria então chamada de “Chiodi pescoço de peru” ao invés de “a vereadora do pé de galinha”?
Por Redação Jornal Viva Voz